sexta-feira, 25 de março de 2016
TUPINAMBÁS COMBATE CORAL-SOL E PROTEGE VIDA MARINHA
A Estação Ecológica (Esec) Tupinambás, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no litoral de São Paulo, acaba de divulgar balanço da expedição realizada no interior e entorno da unidade para combater a espécie exótica invasora coral-sol (Tubastraea spp.) e reforçar as ações de pesquisa e monitoramento da biodiversidade marinha do arquipélago dos Alcatrazes.
Encerrada na semana passada, a expedição durou 18 dias (de 28 de fevereiro a 16 de março) e contou com apoio do navio Soloncy Moura, do Centro de Pesquisa e Conservação da Bidoversidade Marinha do Sul e Sudeste (Cepsul), do ICMBio, além da parceria de pesquisadores de várias instituições. Os recursos foram provenientes da compensação ambiental e do orçamento do Instituto Chico Mendes.
Durante os quase 20 dias, foram realizados cerca de 210 mergulhos autônomos (Scuba) em diferentes profundidades no arquipélago dos Alcatrazes, para a localização e retirada de colônias isoladas do coral-sol e realização do manejo em quatro pontos críticos de infestação, identificados em expedições anteriores. No total, foram extraídas 11.149 colônias das espécies T. tagusensis e T. coccinea. O trabalho contou com apoio de integrantes do programa de voluntariado de 2016 da Esec.
Espécies do fundo do mar
Ainda durante a expedição, o grupo de pesquisadores coordenado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizou o primeiro ciclo de coleta de dados e manutenção das 31 parcelas fixas para o monitoramento de longo prazo das comunidades bentônicas (que habitam o fundo do mar), instaladas em diferentes locais da Ilha de Alcatrazes em novembro de 2015.
Seis dessas parcelas integram experimento para avaliar as taxas de crescimento e a efetividade do manejo das colônias de coral-sol que vêm sendo executado pela Esec Tupinambás há três anos com o objetivo de controlar a disseminação dessas espécies exóticas invasoras.
“O monitoramento de longo prazo do conjunto de parcelas poderá auxiliar no registro de novos pontos de infestação por espécies exóticas e no acompanhamento dos impactos regionais causados pelas mudanças climáticas, como, por exemplo, o branqueamento de corais nativos e o possível registro de espécies de águas mais quentes (tropicalização). Nas parcelas, também foram instalados sensores de temperatura e luminosidade, cujas informações serão integradas a matrizes de dados biológicos”, informou a analista ambiental Kelen Leite, da Esec, uma das organizadoras da expedição.
Censos visuais de peixes
Simultaneamente ao registro fotográfico dos recifes rochosos, foram realizados 118 censos visuais para avaliar a riqueza e a biomassa (quantidade de matéria viva) de peixes que vem sendo comparada com outras unidades de conservação marinhas e áreas que não estão sob proteção especial no estado de São Paulo.
A expedição também fez o monitoramento da ictiofauna (peixes) do arquipélago por meio cinco operações de Bruv (Baited Remote Underwater Video, ou, na versão em português, Iscas de Vídeo Remoto Subaquáticas). O Bruv é um sistema utilizado na investigação em biologia marinha. Ao atrair peixes para o campo de visão de uma câmera controlada remotamente, regista diversidade de peixes, abundância e comportamento de espécies.
Essas ações foram conduzidas por uma pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), com objetivo de aprimorar o registro de espécies – incluindo predadores móveis, como, por exemplo, os tubarões – que costumam evitar mergulhadores e são boas indicadoras da qualidade ambiental da unidade de conservação.
Contagem de ouriços
Além disso, foram realizados censos visuais para a contagem de ouriço do arquipélago. Os censos vêm sendo feitos anualmente na UC por pesquisadores da rede Sisbiota, coordenada pelas universidades federais de Santa Catarina (UFSC) e Fluminense (UFF), desde 2012, quando foi realizado levantamento inédito de biomassa, revelando o bom estado de conservação do arquipélago.
“Esses dados vêm subsidiando diversas estratégias de gestão, como a ampliação da área protegida no entorno da Esec Tupinambás e a construção de seu plano de manejo, que está em elaboração. O monitoramento dos peixes também pode auxiliar no estabelecimento de estratégias de gestão que visem à mitigação de impactos relevantes nas áreas marinhas protegidas, como, por exemplo a pesca irregular”, disse Kelen.
Ainda segundo ela, esse acompanhamento em Alcatrazes está entrando no seu quinto ano. “Resultados preliminares já deram sinais de alerta relativos a diminuição da biomassa de algumas espécies de peixes recifais, especificamente predadores de topo, o que pode indicar aumento de pressão de pesca sobre essas espécies”.
Monitoramento
No decorrer da expedição, foi instalado módulo de monitoramento acústico realizado pela Politécnica da USP, por meio da colocação de sensores acústicos subaquáticos e de sensores acústicos em terra, na ilha de Alcatrazes, que auxiliarão no monitoramento da biodiversidade (cetáceos e espécies endêmicas, por exemplo) e pressões sobre a UC, como a circulação de embarcações.
“Com o aumento da série temporal de monitoramento, em todas as linhas, será possível ter cada vez mais condições de estabelecer padrões e tendências sobre o estado de conservação dos ecossistemas protegidos pela Esec Tupinambás. A gestão de áreas marinhas protegidas embasadas em monitoramento contínuos advinda dessa parceria com a academia ainda é bem rara no Brasil e tem o potencial de gerar impactos muito positivos para a conservação”, afirmou Kelen Leite.
A expedição permitiu ainda a realização de pesquisas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com aves marinhas, e do Zoológico de São Paulo, com espécies endêmicas (só existentes no local).
Treinamento de mergulho e fiscalização
Durante os trabalhos, quatro servidores da Esec Tupinambás foram capacitados em mergulho básico e avançado. Custeado pela Diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade (Dibio), do ICMBio, esse treinamento possibilita que a UC tenha cada vez mais autonomia para desenvolver as ações de manejo e apoiar o monitoramento da biodiversidade.
Paralelamente a essas atividades, agentes da Esec Tupinambás e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), lotados no escritório regional de Santos (SP), fiscalizaram as embarcações encontradas na área da UC e entorno, reforçando a presença institucional, decisiva para a boa gestão das áreas marinhas protegidas.
Fonte: ICMBio
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