terça-feira, 15 de março de 2016
RESERVA EXTRATIVISTA CHICO MENDES COMEMORA 26 ANOS
Vinte e seis anos após a criação da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, no Acre, como é a vida no interior da reserva? Viver na floresta é, de fato, um privilégio de poucos? Em outras palavras, valeu a pena criar a reserva? As perguntas, em tom de boa provocação, são feitas pela chefe da unidade, a analista ambiental Silvana Lessa, ao lembrar a passagem do aniversário de criação da reserva, comemorado nesse final de semana (sábado, 12).
Dentre as 89 reservas extrativistas existentes hoje no Brasil, a Resex Chico Mendes é, sem dúvida, a mais conhecida de todas, fundamentalmente, pelo contexto histórico em que surgiu. “Falar sobre a reserva é rememorar as lutas sociais dos anos 80 contra o desmatamento que começava a crescer na Amazônia a partir da pecuária”, diz Silvana.
O processo de criação da reserva se deu numa conjuntura extremamente conturbada, marcada por conflitos socioambientais na Amazônia e pelo assassinato do líder seringueiro e ambientalista Chico Mendes, em 1988. O fato chocou o Brasil e virou notícia em todo o mundo, forçando as autoridades da época a olharem mais seriamente para o problema.
A resex foi inaugurada em 12 de março de 1990, dois anos depois da morte de Chico Mendes e dez anos antes do surgimento da lei que instituiu no Brasil o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Snuc). O seu nome é uma homenagem ao seringueiro e amibientalista.
Hoje, a reserva é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia do Ministério do Meio Ambiente, fundada em 2007 para gerir as unidades de conservação federais. O nome do Institituto também é uma referência ao líder acreano e sua luta em defesa da natureza.
Novo modelo
“A Resex foi criada como um novo modelo de reforma agrária, objetivando a conservação e a manutenção da cultura local que tinha o extrativismo com principal atividade econômica familiar”, diz Silvana. “Muitos especialistas, ambientalistas e políticos questionam se, de fato, este modelo de área protegida efetivamente deu certo na Amazônia”.
A melhor resposta para questionamentos como esse pode ser dada pelo diagnóstico socioeconômico e ambiental da unidade, realizado pelo ICMBio, em 2010. Na pesquisa, 90% das famílias residentes no interior da reserva declararam que gostariam de continuar vivendo na unidade.
Mas, mais significativo que a frieza dos números, é o depoimento vivo de Severino Silva, morador da reserva, na área do Seringal Porvi. “Hoje muita coisa mudou. Há mais escolas, maior oportunidade de estudar, mais estradas, politicas públicas que apoiam os produtos extrativistas”, diz ele.
A resex abriga hoje cerca de 10 mil pessoas, que vivem numa área de quase 1 milhão de hectares, distribuída em sete municípios acreanos. A região possui uma ampla diversidade de paisagens e contextos sociais particulares.
Investimentos
Segundo a chefe, nesses 26 anos, foram feitos muitos investimentos na unidade, por meio de politicas públicas, programas dos governos federal e estadual e cooperações técnicas com organizações governamentais e não governamentais.
E novos investimentos continuam chegando. “Temos assistência técnica extrativista, implementada pelo Incra através de empresas prestadoras de serviços, um volume de recursos de aproximadamente R$ 17 milhões”, cita Silvana, ao destacar outro projeto, o Sanear, que prevê a construção de banheiros nas unidades familiares.
Na área da educação, há o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Os cursos visam apoiar o desenvolvimento sustentável por meio do fortalecimento da cadeia produtiva do extrativismo, da elevação da escolaridade e do combate ao analfabetismo. A iniciativa faz parte do projeto Pronatec Bolsa Verde-Extrativismo.
Além disso, enormes fragmentos de floresta da unidade guardam diversidade de paisagens e recursos naturais que, se bem manejados, podem render ganhos para a comunidade. “Recentemente estudos apontaram a ocorrência de cacau nativo em toda a extensão da reserva, assim como já se identificou o açaí, produtos altamente demandados pelo mercado”, conta Silvana.
Ela faz questão de destacar ainda que há “lugares incríveis” no interior da reserva que podem ser explorados economicamente e de forma sustentável pelo turismo de base comunitária, que gera renda para os moradores e sensibiliza pessoas que querem conhecer a floresta amazônica e vivenciar o modo de vida de seu povo.
Por tudo isso, Silvana conclui: “A reserva cumpre hoje os objetivos propostos no momento de sua criação. Além de garantir a sobrevivência de milhares de famílias, é sem duvida a grande barreira que impede o avanço do desmatamento na região do Alto e Baixo Acre”. Nem precisa dizer que valeu a pena a sua criação.
Fonte: ICMBio
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